O que ele queria mesmo era fazer peças de teatro sobre peças de fruta.

13.10.08

Quase-blogue

«(...) José B. crescera e quase nada tinha mudado. O outro era amigo da família e vinha passar as tardes de sábado no jardim de casa dos seus pais. No escritório onde trabalhava tinha quase mais clientes do que os seus colegas, o que lhe chegava para arrendar um apartamento simpático com quase tantas assoalhadas como o do vizinho. Tinha quase os mesmos amigos que sempre tivera e que, como ele, quase se tinham esquecido das viagens que tinham feito. Ainda bebiam cerveja.
E Deus (em Quem, porque a sua mulher irresistivelmente lhe pedinchara, voltara a acreditar) dava-lhe ainda duas coisas tremendas. E essas duas coisas tremendas, tremendamente incompatíveis, eram o seu filho e uma guitarra eléctrica.» (in O advogado José B. que queria cantar como o Jeff Buckley, 3 de Junho de 2007)



Mais de um ano depois o quase-advogado é ainda um quase-quase: quase a desistir do curso, quase a acabá-lo com notas quase invejáveis; quase a tocar numa banda de baladas-roque, quase a partir a guitarra contra a parede. Quase o quase-advogado percebe que uma menina de olhos muito verdes e cabelos muito loiros que não lhe dê a ele muitos cabelos brancos não é menina para ele. Quase percebe que a única viagem que vale a pena fazer é só de ida - ou quase só de ida. Um ano depois o quase-advogado quase-quase descobre o que quase-quase quer dizer. E com quase os mesmos amigos que sempre tivera quase-quase percebe que vai sendo tarde demais para escrever peças de teatro sobre peças de fruta.
Quase-quase a terminar: o quase-blogue chama-se "o filho e a guitarra" mas esteve quase para se chamar "o filho e a guitarra eléctrica". Porque é que se chama "o filho e a guitarra" e não se chama "o filho e a guitarra eléctrica"? O quase-advogado não sabe. Pode ser que seja do fado que ouvia quando se lembrou do título, pode ser que seja da Grace acústica no seu colo enquanto a Satine eléctrica na cama. Pode ser que seja de ambas as coisas, pode ser que não seja nem de uma coisa nem de outra.
Isto é como o pudim, quer-se instantâneo, sem qualquer pretensão.
Quase instantâneo. Quase sem qualquer pretensão.

Bem-vindos, descalcem os sapatos, há cerveja no frigorífico!

4 comentários:

maçã disse...

e se há cerveja no frigorífico, vou voltar.
mais um gig, e eu sempre groupie.

Paris disse...

("Vou ser a primeira a descalçar-me?") Quase.

JPC disse...

Cheguei.

M. disse...

só descobri hoje e já não uma única cerveja para uma quase-advogada também.

é suposto ir comprar?

Enviar um comentário