O que ele queria mesmo era fazer peças de teatro sobre peças de fruta.

16.10.08

A maturidade da ginginha

Ontem à tardinha, sob o escudo anti-míssil de lençóis desfraldados nos estendais das varandas, inexplicavelmente imunes ao água-vai! sem aviso da rua da Atalaia,
- Grande cadela, meu puto!
era devido que um rapaz de copo meio-vazio em punho se dirigisse com ensaiada sobriedade a grupinhos aparentemente coesos de raparigas e lançasse o seu cavalo de Tróia, cujos guerreiros gregos contavam histórias de flores que caminhavam e de asas de anjo esquecidas em casa. Ontem à tardinha, a breves minutos do ocaso torrado da rua da Rosa,
- Meu maricas!
era devido que uma rapariga de copo meio-cheio, a metade vazia a dar um tom arroxeado ao decote violeta, simulasse aos guerreiros gregos a repulsa de quatro minutos e meio que a livrava da fama de perdida.
Sofistas e filósofos chamavam o Gregório e o Gregório não aparecia. Ano do incêndio do Chiado? 1755. Cognome de D. Dinis? "O agricultor". A procura era elástica, a oferta semi-rígida, a mão invisível no bolso das calças e o ponto de equilíbrio no óptimo de Pareto: o mercado funcionava sem que fossem necessárias injecções de capital ou de soro. Desabituados à teoria das vantagens comparativas, ele e eu cantávamos como estes dois,



o seu copo meio-cheio, o meu meio-vazio,
- Meu maricas!
encontrando o equilíbrio num abraço que fugia para lá de um ano, ebriamente interessados nos sonhos dos outros (os sonhos dos outros sobriamente desinteressados de si próprios).
«Não sou ladrão, eu não sou bom de bola». Talvez esteja mais maduro, talvez apenas mais barbudo: no meu último rali das tascas não roubei nenhuma maçã.

1 comentário:

She disse...

Gostei. (Principalmente a parte dos termos económicos...)

=) *

Sheila

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