O que ele queria mesmo era fazer peças de teatro sobre peças de fruta.

28.4.09

Perdoa-me tu que aqui vieste para me ouvir cantar,

mas reparei agora que não presto a justa e herética idolatria ao mitológico deus do rock vai para lá de uma porrada de meses. Liguemos, pois, os cabos do computador às colunas mais potentes de cá de casa, fechemos as portadas e baixemos as cortinas, tiremos o six-pack do congelador, descalcemos os sapatos e espraiemo-nos no sofá num pranto de bebedeira e na mais sublime agonia de cotovelo. É que há quem ainda tenha de comer muita sopa até voltar a pegar numa guitarra em público.





23.4.09

Barba invejável e umbiguismo tolerável,

mas é como diz o outro: construímos arranha-céus e voamos até à lua só para vos levar para a cama.



Só para vos levar para a cama.



Só para vos levar para a cama.

20.4.09

A rapariga que compra beringelas em calças de pijama‏

Porque pode ser que a tal de quem te falo não seja afinal de cá
e que o destino (ai destino, ai) assim o queira
peço-te encarecidamente (para lá de um balúrdio
em advérbios de modo) e de joelhos que
se por destino (ai destino, ai) te encontrares com
a rapariga que compra beringelas em calças de pijama
na rua - dirijo-me a ti porque como sabes
ela é capaz de morar na Luciano Cordeiro
aí pertinho de ti - a interpeles (verbo "interpelar":
relativo a conjunto de pessoas
que não usa protector solar em Agosto
e que se junta no fim das férias para
remover camada epidérmica superficial) numa espécie de

"ó tu
que conheces o joão da faculdade de direito
espera aí"

mas com as tuas palavras
e lhe dês o meu número de telemóvel (0931, por aí fora
ou 707221122 para mandar vir uma cheeseham)
pedindo-lhe que me contacte via sms ou chamada
logo que possa, de modo a
(e isto escusas já de mencionar)
irmos ver o "almoço de 15 de Agosto",
título original (tronco apoiado de lado nas costas da cadeira
braço esquerdo descaído para trás com cigarro preso nos dedos
braço direito empunhando um cálice de branco fresco
face num sorriso lateral contorcido) "pranzo di Ferragosto",
que é simples e bonito
e cheira bem.

Porque pode ser que a tal de quem te falo não seja afinal de cá
e que o destino (ai destino, ai) assim o queira:
que assim como assim
(como quem quer dizer)
assim nos queira,
assim nos queira ter juntado
sabes, casamenteiro,
porque ela é de lá e está afinal cá
e eu estive lá e sou afinal de cá.

(repara, amigo, talvez tenhamos chegado
a uma altura em que uma coincidência,
de tão pouco profunda por ser o que é:
uma coincidência:
nos baste. É que no fim de contas
falamos de amor,
que tem a profundidade de
uma beringela e de
uma coincidência:
e que é sobrevalorizado,
como o é a consciência,
mas que graças a Deus que o é.)

Deixamos voos mais altos para as quintas-feiras
que pode ser que nunca venham,
está bem,
mas até pode ser que sejam já amanhã.

6.4.09

Requerimento

A minha vocação é esta
:digitalizar livranças e
conferências de fotocópia acompanhadas
da respectiva procuração;

falo de requerimentos
executivos, percebem-me, pois
a minha tarefa neste metro quadrado
acético
(ascético) é
chupar as poupanças de indivíduos pródigos
como quem chupa
drops de mentol.

- Ao menos tens café à borla - responde
com luzinhas verdes
a máquina fotocopiadora, percebem-me,
como quem nos fotocopia
a alma
em .pdf.

(Ao menos o café à borla,
sinal de que estou vivo
e a caganeira também.)