O que ele queria mesmo era fazer peças de teatro sobre peças de fruta.

6.11.08

A minha máquina de escrever faz parágrafos onde não quero

Vi um louco de veludo
de louco inchado urrando garrett abaixo
- Porcos! escarrando, acho
aos cegos e aos sábios
e à menina do rio,
loiríssima com pinta de actriz
dos olhos pintalgados de lágrimas a verniz
à carne dos lábios
tremendo de frio.

O louco sorriu e à descida
descobriu-lhe uma ferida,
deu murros no peito
e achou-se com vida.
Retrato perfeito, não era ela mais nada
que a boca loiríssima, tímida e escancarada
de um anúncio a perfume
Envy
Desire
Doom!
da paragem do autocarro. Por muito-pouco
não engoliu ela o escarro do louco,
o escarro de perfume
enlouquecido de ciúme,
O cego morto e o sábio rouco.

Desfez sua a trança e não se olhou ao espelho
na fácil confiança de um vestido vermelho.

Mas a verborreia por ali ficara. Apetecia-lhe falar de Lisboa e não conseguia. Fazer uma festa, celebrar não sabia bem o quê. Pisou o cigarro, tomou a sua bica e abalou. Um estudante de Direito não sabe escrever.

2 comentários:

Tigre Azul disse...

mas manda SMS's porreiros. boa, ramsés.

Paris disse...

"na fácil confiança de um vestido vermelho". De facto.

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